Essa costuma ser uma dúvida recorrente, pois o trabalho desses profissionais é frequentemente confundido. Apesar de trabalharem na mesma área, a de saúde mental, e possuírem objetivos semelhantes - especialmente o de atender aos pacientes que buscam o equilíbrio de sua vida psíquica, possuem diferenças bem marcadas desde sua formação acadêmica e profissional, até em sua atuação e interpretação acerca dos sintomas apresentados pelos pacientes.
"A proposta do psicanalista é escutar o sujeito, indo ao ponto que lhe causa sofrimento, sem trabalhar com diagnósticos pré-estabelecidos por manuais gerais"
Psiquiatra
É formado em Medicina e fez a sua especialização em psiquiatria, através de uma residência em hospitais e/ou clínicas psiquiátricas. Seu principal método de tratamento é pela intervenção com medicamentos psiquiátricos (psicofármacos que atuam diretamente no sistema nervoso central), sendo estes associados ou não à psicoterapia.
Seu objetivo é trazer o paciente de volta ao estado emocional “normal”, longe de tudo o que foge à regra estipulada pela sociedade. Seu trabalho é pautado nos manuais de transtornos mentais, como o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o CID-10 (Código Internacional de Doenças), com o objetivo de formular um diagnóstico, possibilitando prescrever psicofármacos como ansiolíticos, antidepressivos e outros para o processo de "cura" do estado emocional do paciente.
Psicólogo
Trata-se de um profissional que concluiu a sua graduação em Psicologia.
Embora tenha estudado cadeiras na faculdade como psicofarmacologia, disciplina que demonstra como as medicações psicotrópicas atuam no organismo, e sobre psicopatologia, disciplina que compreende o reconhecimento de transtornos mentais e psíquicos, o psicólogo não está autorizado a receitar medicamentos.
Esse profissional acredita que a eficácia dos medicamentos psicotrópicos se dá, em geral, associada à intervenção terapêutica através da fala e dos questionamentos acerca das suas emoções.
O psicólogo pode atuar em diversas áreas. Dentre elas, prestando atendimento clínico através de psicoterapia, devendo escolher uma entre as diversas abordagens existentes, sendo uma delas a psicanálise.
Psicanalista
Já o psicanalista não precisa necessariamente ter cursado a faculdade de Psicologia ou ser um psiquiatra para atender ao paciente, embora muitos cursos de especialização lato sensosolicitem a estes profissionais uma dessas formações por possuírem em seu curso uma parte prática, de atendimento clínico nos Serviços de Psicologia.Instituições que não possuem a parte prática costumam solicitar apenas uma formação acadêmica de nível superior.
De acordo com Freud (1914/1980) - criador da psicanálise -, a prática psicanalítica deve consistir na formação do psicanalista, na qual é necessário manter alinhado o tripé psicanalítico, composto por: sua análise pessoal com psicanalista já formado, supervisão com um analista mais experiente e sua formação teórica, podendo esta ser feita em escolas de psicanálise e geralmente de forma contínua.
Não há um diploma ou certificado de psicanalista, é necessário estar sempre estudando e se aprimorando, uma vez que a psicanálise não é reconhecida como uma profissão, e sim como uma ética, ela se baseia em um conceito clínico que consiste na investigação, hipótese diagnóstica e tratamento de sintomas psíquicos.
A proposta do psicanalista é escutar o sujeito, indo ao ponto que lhe causa sofrimento, sem trabalhar com diagnósticos pré-estabelecidos por manuais gerais.
A psicanálise acredita que tais diagnósticos estigmatizam e rotulam o sujeito, tornando-o preso a uma categoria sem possibilidade de mudança.
Parte-se do pressuposto de que cada sujeito é único e subjetivo, pois o mesmo evento pode ser interpretado de maneira diferente para cada sujeito.
Investiga-se aquilo que não vai bem, através das manifestações do inconsciente, deixando o sujeito falar livremente o que vem em sua mente, através da técnica de associação livre proposta por Freud em 1913.
A aposta no inconsciente é a principal característica da psicanálise, o que a diferencia de outras abordagens dentro do campo da psicologia.
Não se diz ao paciente o que ele tem ou o que deve fazer, mas ele mesmo, a partir dos recursos de sua análise, irá procurar elaborar essas respostas. Tentará encontrar em seu sintoma aquilo que lhe causa angústia, a fim de atravessar suas fantasias, tentando diminuir o sofrimento.
O psicanalista trabalha com a “hipótese diagnóstica” entre neurose, psicose e perversão apenas para saber como deve ser conduzida a análise.
Trabalharemos esse tema em um próximo artigo.
*O compartilhamento desse artigo é autorizado desde que seja feita a referência à autora principal do texto.
Artigo escrito por Carolina Moreirão, Psicóloga Clínica, Pós-Graduada em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, Participante de Formações Clínicas do Campo Lacaniano da Bélgica.
Referências bibliográficas:
Freud, S. (1980). A história do movimento psicanalítico. In S. Freud, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud(J. Salomão, trad., vol. 14, pp. 12-82). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado em 1914)
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931997000200005 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712003000200015 https://m.youtube.com/watch?v=FjYvwYuCsDE
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