O Natal e o Ano novo perto ou longe do seu país de origem pode ser um momento extremamente delicado por estarmos mais emotivos. É preciso avaliar com cuidado redobrado as decisões nesse momento.
Luzes de natal piscando, vitrines decoradas, sinos soando por todos os lados. A tão esperada semana do Natal chegou! E agora?
Tantas coisas para fazer e pouco tempo para conclui-las! O que aconteceu que o ano passou tão depressa?
Nesse momento, a agenda fica lotada com diversos encontros e despedidas, apresentações de escola, o famoso “amigo oculto”, compras desesperadas para não deixar ninguém de fora da lista “et voilà”! O final do mês de dezembro se aproxima e a “noite feliz” está a caminho!
Esse é um relato de uma brasileira morando no seu país de origem. Mas como é o natal daqueles que moram fora?
Aqui na Holanda, dezembro é o marco do inverno com a chegada do frio. A despedida dos longos dias de sol só se torna uma lembrança presente devido a sua falta; que é escancara com a realidade da escuridão. O sol começa a nascer por volta das oito horas da manhã e se despede por volta das quatro horas da tarde.
O frio pode vir ou não acompanhado de neve nesse momento. Embora não seja muito frequente aqui nos Países Baixos, há uma esperança que ela apareça branquinha, caindo devagarzinho, trazendo uma paz e nos mostrando o verdadeiro sentido da transitoriedade, que de acordo com FREUD (1916 [1915]) é preciso saber apreciar esse momento tão fugaz. A beleza que a natureza nos proporciona marca uma finitude, como a neve que pode ser tão frágil quanto os nossos sentimentos nessa época do ano.
Nesse momento, no qual normalmente reunimos a família ao redor de uma mesa farta onde contemplamos uma árvore cheia de enfeites, com desejos consumistas na sua base, o dia se torna um pouco mais gelado do que de fato costuma ser.
Estar longe da família e não poder revê-la em uma data tão especial que não remeta a figura de família e união, torna esse dia um pouco diferente. Uns se juntam com outros amigos e outros preferem se exilar nesse momento. A verdade é que o Natal longe de casa não é o mesmo, obviamente, do que aquele que sempre costumou a ser.
A saudade invade e toma proporções incalculáveis, a falta se mostra totalmente presente e é preciso se virar com o que se tem no momento atual.
As cidades da Holanda estão totalmente decoradas e as pistas de patinação no gelo são marca registrada dessa época do ano, assim como as feirinhas de natal e as guloseimas e bebidas quentinhas que, por alguns instantes, nos fazem esquecer que estamos longe da família e que não haverá aquela confusão na ceia de Natal e na entrega dos presentes.
Esse texto não pretende enquadrar ninguém nos padrões citados acima e se você não se identifica dessa forma com essa data, não há nada de errado com você, não se preocupe!
A verdade é que esse momento de fim de ano deixa qualquer um mais vulnerável, os sentimentos estão à flor da pele, o ano acabou e um novo vai iniciar. Com o sentimento de “nossa passou tão rápido” surge, imediatamente, a frustração de não ter feito tudo o que gostaria. Em seguida, aparecem novos planos, e é nesse momento em que devemos tomar muito cuidado como afirma o Psicanalista Christian Dunker (2015) “Nunca tome uma decisão entre o Natal e o Ano-Novo”.
Neste tempo entre o fim de um ciclo familiar (Natal) e a renovação individual de nosso desejo (Ano-Novo), esteja preparado para revisitar uma síntese condensada do pior e do melhor de sua própria loucura. (DUNKER, 2015)
Os fantasmas do fim de ano aparecem e a chegada desse mês traz consigo, em muitas pessoas, sentimentos de angústia e ansiedade devido ao excesso de emoções latentes e o findar do ano. O sujeito tende a querer tomar certas atitudes antes que o ano acabe ou começa a listar inúmeras atitudes a serem tomadas tão logo que o primeiro dia do ano comece. É lógico que, tragicamente, isso tende a falhar.
O ideal é tentar não se sobrecarregar de tarefas. Aqueles que estão fora, o mais importante nesse momento seria tentar se unir com outras pessoas para evitar a solidão, que se torna mais presente nesse momento longe da família e dos amigos. Tente evitar decisões precipitadas como o término de um relacionamento, pedido de demissão do trabalho, retorno definitivo ao país de origem, dentre outras decisões que necessitam um momento de atenção maior e especial para pensar e reavaliar essas decisões, pois em uma semana o ano irá mudar, mas os problemas continuarão a existir.
É preciso ir a fundo nesses questionamentos para compreender se o que se quer é realmente mudar ou tentar ajustar algumas coisas. O importante é evitar decisões precipitadas pressupondo que a angustia irá terminar.
Espere a maré baixar e depois retome com calma seus projetos, faça uma avaliação do que não vai bem, do que pode ser melhorado e como você pode fazer isso. A análise muitas vezes pode ajudar nesse longo processo de avaliação do desejo.
Mas não deixe de tecer esperanças a um ano novinho que vem chegando como uma página em branco e pronto para que você escreva a sua história!
Um Feliz Natal e um Próspero Ano novo a todos!
*O compartilhamento desse artigo é autorizado desde que seja feita a referência à autora principal do texto.
Esse artigo foi escrito por Carolina Moreirão, Psicóloga brasileira residindo e trabalhando na Holanda, Pós-graduada em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e participante de Formações Clínicas do Campo Lacaniano de Bruxelas.
REFERÊNCIAS:
FREUD, S. (1916[1915]). Sobre a Transitoriedade.Obras completas, Rio de Janeiro: Imago, 1996.vol. XIV.
DUNKER, C. Nunca tome uma decisão ente o natal e o ano novo.Jornal Zero Hora. Porto Alegre, dez. 2015. Disponível em < https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2015/12/nunca-tome-uma-decisao-entre-o-natal-e-o-ano-novo-aconselha-psicanalista-cjbpatfi300i001mljajxs11s.html > . Aceso em: 10 de dez. 2018.
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